O Prefeito Rudinei Harter assinou o Projeto de Lei que "Declara o Movimento Negro Kizumbi como Patrimônio Cultural e Imaterial do Município de São Lourenço do Sul.", encaminhado pela Câmara de Vereadores. O Projeto de Lei que declara o Movimento Negro Kizumbi como Patrimônio Cultural e Imaterial do Município de São Lourenço do Sul. O Movimento Negro Kizumbi este ano completa 35 anos. Em 13 de dezembro de 1987, na casa de Ernesto Centeno, tiveram a primeira reunião, com a presença de 9 pessoas e em 27 de dezembro do mesmo ano, a segunda reunião, desta vez na comunidade Nossa Senhora de Fátima, com mais de 30 pessoas presentes. Esses encontros deram início à criação do grupo em 1988, no em que se completava 100 anos da abolição à escravidão. Os irmãos Ernesto, Almerinda e Ana Centeno, vem desde os anos 80, mostrando a sua militância e ativismo no município.
No inicio da década de 90, Vera Macedo iniciou seu processo de ativismo negro junto à família Centeno, e tem um papel importante de liderança até hoje no grupo. Os agentes da Pastoral Afro e do Movimento Negro, ao longo dos anos lutam para conquistar o seu espaço através de ações e reivindicações, inclusive fora do Estado. Essa luta iniciou-se dentro da igreja católica, devido ao fato da dificuldade em ser negro dentro da comunidade cristã. Dessa forma, as primeiras agentes pastorais negras desenvolveram ações como a 1ª Missa Afro, que ocorreu na festa do Padroeiro da Comunidade São José no ano de 1988, que contou com danças e cantos das religiões de matriz africana.
No ano seguinte, o Movimento Negro criou um projeto de lei apresentado à Câmara de Vereadores de São Lourenço do Sul, que disponha sobre a realização da Semana da Consciência Negra no município. O projeto de lei foi negado várias vezes pela Câmara Municipal e mesmo depois de ter sido aprovado, foi retirado, com a alegação de que não existia racismo e que se houvessem projetos para negros, era necessário criar também para brancos. Essa luta durou até 29 de marco de 1990, quando o projeto de lei foi inserido na Lei Orgânica Municipal e ficou instituído à lei no período de 17 a 24 de novembro, a Semana da Consciência Negra em SLS.
A partir disso, o Movimento começou a fazer trabalhos nas escolas, com apresentação de filmes e palestras, seguiu com a sua militância nas igrejas, nos meios de comunicação e ocupando por diversas vezes a Câmara Municipal com as suas propostas aos vereadores. Assim, foram construindo a 1ª Semana do Negro, com o titulo de Kizumbi "Quizomba a Zumbi", que aconteceu em novembro de 1990. Na semana em questão, aconteceu um jantar afro na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, com a escolha da 1ª Rainha Negra "Gilmara Ferreira", 1a Princesa Negra Luciana Teixeira", 2ª Princesa Negra "Mariele Silveira" e Negra Simpatia "Vanusa Ribeiro". O evento encerrou-se na Praça Central, com músicas, danças afro e capoeira. Em 1992, foi realizado o 1° concurso do Rei Negro de São Lourenço do Sul.
O trabalho não parou e o Movimento Negro Kizumbi continuou com suas atividades, realizando pesquisas na cidade e no interior, fazendo um levantamento de dados, analisando o que o negro pensava em relação a sua história. Neste levantamento, constatou-se que 90% dos negros não conheciam a sua origem, os processos de discriminação, racismo e marginalização e muito menos a sua colaboração na construção e desenvolvimento do municipio.
Em meio a tanta resistência, o Movimento começou a utilizar faixas nas ruas, a confeccionar bonecas negras, adereços Afro, artesanato e também criou um grupo de Capoeira no Municipio. O Mestre Pretto é agente de inclusão social e responsável pelo grupo de Capoeira Filhos da Roda, que atua desde a década de 90, resgatando a cultura e a prática da capoeira no município. Mais de 3 mil pessoas já fizeram aula com o Mestre e destas todas, apenas 4 tiveram envolvimento ou infrações leves com a polícia. O grupo já foi premiado no Uruguai através do Festival Internacional de Folclore, onde concorreu com 5 países, vencendo em primeiro lugar em 3 categorias: artística, folclórica e cultural, representando o nosso país e o município. Graças a capoeira e ao seu arquivo histórico e jornalístico, em 2003, o município conseguiu acessar um projeto de Ponto de Cultura que propiciou mais de 6 oficinas e atividades artísticas para a comunidade Lourenciana, onde os oficineiros recebiam um valor x para promoverem as aulas no projeto.
A capoeira é mais do que apenas uma luta, ela é uma arte, uma filosofia de vida que te ensina sobre educação Quilombola, respeito, disciplina, racismo, discriminação, história da população Preta no Brasil, musicalidade, arte, entre outros, e que contribui na formação e caráter dos praticantes. Ano passado, Pretto participou da gravação de um filme chamado AGUDÁS PASSAGEIROS DA HISTÓRIA, com gravações no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão, além disso, passou 21 dias na África, nos países da Angola, Porto Príncipe e República do Kongo, aprendendo e ensinando. O filme está previsto para ir ao ar em março de 2024.
A comunidade Lourenciana aos poucos ia modificando seu pensamento e os negros já tinham algumas conquistas. As pessoas não negras estavam conhecendo mais a história e a colaboração do negro no desenvolvimento local. Após a recurso da história do negro no Jornal do Almoço junto com a do município em 1991, em 14 de fevereiro de 1995, foi mostrado para toda a região Sul, a história do negro em São Lourenço do Sul, além das indumentárias e da gastronomia afro, que foi muito comentada em nossa região. Em agosto do mesmo ano, aconteceu o encontro Nacional de Bispos e Padres Negros na cidade de Pelotas, e os Agentes da Pastoral Negra do municipio organizaram a celebração de abertura, que foi ao ar no mesmo mês no programa Fantástico da TV Globo.
Ainda em 1995, em homenagem aos 300 anos de imortalidade de Zumbi dos Palmares, com a presença de autoridades locais, a participação das escolas e a Banda Marcial Monsenhor Gautsch, foi inaugurada uma placa em forma de tambor, com o rosto de Zumbi, que encontra-se na Praça Central. Em 1998, entrou em votação mais um projeto de lei na Câmara Municipal, que foi rejeitado por mais de 10 vezes, mas que após muita luta, entrou em vigor no ano seguinte. O projeto em questão, "tornou obrigatória a inclusão no Curriculo Escolar do Município, a História da Raça Negra e ficou estabelecido que na semana que antecede a comemoração, a Semana do Negro, serão feitos trabalhos de pesquisa pelos alunos das escolas municipais, com exposição pública dos trabalhos, dando, além destas, maior ênfase a estes estudos".
Em 1999, aconteceu o "Negra Zona Sul Kizumbi 99", no galpão Crioulo do Camping Municipal, com apoio da Prefeitura Municipal, Secretaria Municipal de Desporto e Turismo. E no mesmo ano, houve a conquista de 100 cursos gratuitos de informática para negros, e São Lourenço do Sul recebeu 20 vagas. Essas foram apenas algumas das reivindicações, conquistas e lutas do Movimento Negro Kizumbi, que atua no município há mais de três décadas. O grande grupo desmembrou-se em subgrupos que hoje formam coletivos de mulheres negras, capoeira e quilombolas, que atuam com ativismo negro e liderança forte pela região sul e pelo país.
Art. 1.º Fica declarado como Patrimônio Cultural e Imaterial do Município de São Lourenço do Sul, o Negro Kizumbi.
Art. 2.° O Movimento Negro Kizumbi, criado em 1988 e realizado, tradicionalmente, no mês de om atividades alusivas a Cultura Afro.
Art. 3.° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Fonte Câmara de Vereadores